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Exposição RISCO #1 | SESC Belenzinho, SP, 2012 | Texto por Claudinei Roberto da Silva
No BRASIL, o graffiti é uma manifestação relativamente recente, datada dos anos 70 do século passado. Embora hoje essa linguagem venha, gradativamente perdendo aquelas características que faziam dela uma manifestação de combate à arte e à cultura inseridas num sistema consumista, nas periferias ele ainda preserva sua potência original , dando voz à artistas que enxergaram nele um veículo ideal para manifestação de suas inquietações politicas e estéticas.
Do diálogo entre os espaços tradicionais da arte e a rua, de uma leitura particular da história da arte no BRASIL, e especialmente da nossa história d escultura, surge a obra de LUIZ83. Transitando entre o legado concreto, neoconcreto e a cultura pop representada pela street art, esse artista reinventa a matéria a partir do trabalho, revelando qualidades poéticas e construtivas antes escondidas . O papelão ganha corpo e se projeta no espaço se convertendo em coisas novas . As letras do graffiti, antes bidimensionais e contextualmente codificadas, se tornam um novo signo, num todo repleto de poesia. desenho, forma, ideia e tensão se fundem reconstruindo o espaço.
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Exposição Inside Deslocamentos da Street Art | Galeria TATO, SP, 2014 | Texto por Paulo Trevisan
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As ruas da cidade de São Paulo são vias de comunicação. Espaços de fluxo de pessoas, elas também são canais para a apresentação de imagens. Pelo menos desde meados da década de 1960, muros e paredes públicos foram ocupados com manifestações de protesto ou frases e palavras poéticas. No transcorrer dos anos seguintes, as figuras se associaram à já existente prática da escrita. Desde então, a exemplo de outros grandes centros urbanos, como Berlim e Nova York, lambe-lambes, stickers, desenhos, palavras e pinturas proliferam-se pelas ruas da capital paulista. Dotadas de um sentido do imediato, da apreensão rápida e de sintonia com a velocidade do olhar em trânsito, as manifestações da street art se configuram sobre um repertório visual: cores vibrantes, traços definidos, tendência à planura e economia de elementos figurados.No que tange ao sentido criado por essas manifestações, sua contextualização no espaço urbano é, na maioria das vezes, determinante. Tendo em vista esses pressupostos, a presente exposição visa a tensionar o problema do espaço de apresentação dessas imagens e destacar a força de seu aspecto visual mesmo quando deslocadas do ambiente das ruas para os espaços fechados vinculados à circulação da arte. Dessa forma, a imagética da street art continua a oferecer possibilidades de criação, ainda que migre de muros e paredes para suportes como o papel e a tela ou se torne uma peça tridimensional. Ao prolongar as pesquisas artísticas além do espaço público, poéticas individuais pautadas na força da imagem e da escrita aprofundam-se e novas formas de recepção dessas imagens são estabelecidas.
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Exposição Z | Galeria TATO, SP, 2015 | Texto por Paulo Gallina
A primeira exposição individual de Luiz83 é a um só tempo um fim e um começo, por isso Z. Se as letras são a matéria-prima manipulada pelo artista desde o começo de sua carreira como pixador, então se faz necessário explorar a relação entre imagem-letra, sonoridade palavra e vivencia humana.
A construção das letras vem da pixação: uma estilização dos caracteres capaz de conferir liberdade ao artista. “Estudar as formas (das letras) de outros - procedimento típico entre pixadores - me fez perceber que eu também poderia construir uma letra com um padrão próprio, mas me inspirando em outros que eu admiro. É tudo uma questão de estilo. Eu faço uma letra bem básica”. Revela o artista.
A construção das palavras vem do mundo, e classifica, separa e taxonomiza tudo que existe na matéria entre sons e conceitos. Forjadas entre a experiência e o som, as palavras parecem tanto separar quanto reunir o mundo em si. Porém a construção da vivencia, como se faz? No ato de caminhar, habitar, constatar presença. Presença que nunca é entendida sozinha, a vivência só se faz quando percebida por quem vive.
Com força Luiz reinventa um modo de falar seu nome, de registrar seu mundo – precisamente como faziam os monges copistas que guardavam o mundo em livros. A diferença é que os monges escreviam em latim, uma língua erudita, enquanto Luiz83 guarda suas sensações misturadas entre o grafite e a pixação, ou, como ele mesmo denomina: o naturalmente paulistano GRAPIXO. Alterar o suporte é também alterar a obra: talvez por isso a primeira experiência em pintura só veio a acontecer em 2008. A tela era um signo de erudição para o artista, e talvez ainda hoje o seja. A técnica em pintura, no entanto, não altera o procedimento plástico do artista apenas o aproxima de um universo que parecia encerrado entre os muros da escola e as galerias de museus. Ele inclusive é refratário ao academicismo que se supõe implicado à pesquisa em pintura. Interessado em suas próprias referencias, ele não se limita aos axiomas de seus heróis. Talvez porque esses heróis na história da arte, lhe serviram de muito pouco em seus anos de formação; foi na rua em que aprendeu a olhar, o museu era pouco mais do que um prédio estranho com um convite pouco empolgado. Foram os letreiros de açougues, mercados, padarias etc que o estimularam a brincar com a formas ao invés dos signos. A literatura acadêmica e ficcional pouco o estimularam a agir. Foram as formas que se mostraram voláteis, não os signos por trás delas.
Alterar o suporte é também alterar a obra: talvez por isso a primeira experiência em pintura só veio a acontecer em 2008. A tela era um signo de erudição para o artista, e talvez ainda hoje o seja. A técnica em pintura, no entanto, não altera o procedimento plástico do artista apenas o aproxima de um universo que parecia encerrado entre os muros da escola e as galerias de museus. Ele inclusive é refratário ao academicismo que se supõe implicado à pesquisa em pintura.
Interessado em suas próprias referencias, ele não se limita aos axiomas de seus heróis. Talvez porque esses heróis na história da arte, lhe serviram de muito pouco em seus anos de formação; foi na rua em que aprendeu a olhar, o museu era pouco mais do que um prédio estranho com um convite pouco empolgado. Foram os letreiros de açougues, mercados, padarias etc que o estimularam a brincar com a formas ao invés dos signos. A literatura acadêmica e ficcional pouco o estimularam a agir. Foram as formas que se mostraram voláteis, não os signos por trás delas.
O alfabeto é para Luiz83 um ponto de partida, por isso estas imagens não se destinam a formar palavras ou sílabas. Seus guaches mais recentes aprofundam a pesquisa das formas. Desde 2013 Luiz decompõe as letras procurando uma composição abstrata assimilada pelo todo da imagem. Uma letra torna-se uma página, uma tela ou uma escultura. Os vazios na imagem são respiros, alusões ao que não se pode transformar nem imagem, nem palavra.
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